Olhava para o relógio atentamente, meu rosto estava completamente roxo devido a complexa equação de preocupação e aflição, 3h:45m e ele não está aqui, ele nunca teve esse tipo de comportamento, apesar de ultimamente a frustração ter afunilado a sua cabeça, e tentando afogar as magoas e as dores em mil copos de fino, acaba por maltratar-se ainda mais...Tenho tentado fechar os olhos mais nem por um segundo permaneço com eles fechados ,levantei da cama e apreciava o meu rosto com ajuda da luz da vela, o espelho rachado na vertical que dividia o meu rosto em duas partes. Faz muito tempo que não consigo encontrar minha identidade por não me enquadrar em minha realidade...
de repente surgiram gritos lá de fora, a voz não era estranha, apesar das palavras serem maltratadas em atropelos constantes, misturadas com palavrões, tinha quase a certeza que era ele ,pela hora preferi esperar ele bater a porta, mas sai do quarto a correr para sala e cai, por ter pisado em um pequeno buraco, a minha casa era quase toda esburacada, o chão era de terra batida e nas paredes era visível os blocos, ou melhor, a casa estava inacabada. Levantei-me e fiquei de pé próximo da porta, a ansiedade de lhe ver a entrar era extrema, ele era a única coisa que me tinha restado no mundo, ele bateu a porta com uma grande força.
- Flor, p*** de m*** abre essa porta! gritou. Eu assustei, dei um passo para atrás, suspirei.- Já abro pai, só um segundo. Abri a porta,ele entrou e com o seu jeito ultimamente rude empurrou-me para o chão. - Porque demoraste ao abrir a porta? perguntou. Era visível que ele estava completamente desnorteado e sentia-se o cheiro do álcool a distancia. Levantei, ele agarrou o meu braço esquerdo com muita força e levou-me para o quarto e atirou-me para cama, eu tremia de tanto medo, e encolhi-me com o tronco na parede e os joelhos sobre o queixo, ele nunca esteve deste jeito, tão estranho nem parecia ser o meu pai. Ele lutava para tirar o cinto.
- Eu nada fiz para apanhar pai! minhas palavras reflectiam o medo. Medo era o sentimento que mais me atormentava, tinha medo de viver,medo de perder a única pessoa que tinha.
A primeira impressão que tive é que iria apanhar mas quando ele começou a lutar para tirar a calça, não quis acreditar que o meu pai seria capaz de fazer o que eu pensava, tentei fugir, e assim que pulei da cama senti a fivela do cinto sobre a minha costas, foi com uma grande força, e a dor era intensa, ele trancou a porta do quarto.
- Sua vagabunda, queres tentar fugir de mim. Não havia mais duvidas e comecei ter a certeza que o meu pensamento estava certo.
Tentei reagir, peguei na boneca de porcelana que tinha ganho da minha avo e atirei contra ele, mas não chegou nem próximo, e senti a fivela sobre o rosto e comecei a sangrar, sentia o mundo a balançar, parecia que perdia o equilíbrio, e naquele momento ele empurrou-me pra cama rasgou o meu vestido de noite, eu tentei ainda resistir, mas já não tinha forças, e depois de tanta luta ele penetrou em mim, e senti o sangue a escorrer sobre as minhas pernas, e lágrimas criavam um leito sobre o meu rosto.
Depois dele ter terminado não fechei os olhos e nem sequer tirei o meu olhar do tecto por nenhum segundo , parecia ter perdido os sentidos...
Continua....
Duval Cabral in "lágrimas profundas"
Muito bom.
ResponderEliminarObrigada Rosa Soares...
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