segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Simplesmente Amor


As nuvens corriam rapidamente sobre o céu, os raios do sol davam os seus últimos gritos e transbordavam todo o seu charme sobre o mar, meus pés afogavam-se sob os últimos suspiros das ondas, olhava para toda aquela magnitude com lágrimas a transbordar sobre o rosto que cruzavam com o sangue que vazava das narinas, estava pálida, e fraca, fazia um grande esforço para respirar, mas os meus lábios não cessavam, em cada fôlego engolido por mim, uma frase completava a minha oração, nada quebrava minha concentração, nem o telemóvel que não parava de tocar, tinha o meio mundo a procura de mim há quase duas semanas. 
Depois de o sol se tornar mudo por completo, e a lua e as estrelas passarem a reinar o céu e as narinas se tornarem secas, e de ter perdido a concentração, olhei para o telemóvel que não parava de chamar, e no visor vinha “Meu mundo”, depois das incessantes 1625 chamadas do meu noivo decidi atender, e do outro lado ouvi uma voz completamente desesperada.

-Alo! Aline, por amor de Deus diga alguma coisa.
-Eu estou bem. - Respondi meia hesitante. - Não precisa ligar toda a hora. 
-Como assim? eu estou preocupado contigo, tu desapareceste a quase 15 dias mulher, sem dar satisfação nenhuma e o que tens a me dizer é isso.
Bruno, será melhor assim para todo mundo, não te quero ver sofrer em momento algum.
-Achas que eu estou bem com isso tudo, o nosso casamento é daqui a 30 dias, achas que há dor maior do que se sentir abandonando por alguém que damos até a última gota de energia por ela.
-Desculpa-me, mas não posso.- respondi me sentindo meio tonta, desliguei a chamada, comecei a andar em passos lentos e descompassados, senti os olhos a pesarem, e tudo se apagou.

O amanhecer dos meus olhos foi marcado por uma luz forte que os magoavam, e a imagem do rosto de Bruno, triste com os olhos quase inchados de tanto chorar, olhei para ao lado desviando o meu olhar, ele pediu a enfermeira que estava no quarto do hospital para dar-nos alguns minutos a sós, e antes que ele começasse a falar me adiantei.

-Eu já disse tudo o que tinha para falar.
-Há quanto tempo você sabe que estas doente? Perguntou se aproximando, e sentou na cama. E eu surpreendida com a pergunta, me tornei muda durante um bom tempo, apesar de estar numa cama de um hospital nunca me passou pela cabeça que ele já soubesse de tudo.
- 8 meses. Respondi gaguejando.
-Então porque não me disseste nada? Fugiste para o mundo, sem dar explicação nenhuma, deixando toda gente que te ama no desespero, nós podemos ultrapassar tudo isto juntos, como um só. 
-Não tem como ultrapassarmos, já esta tudo ditado, eu vou morrer, acabou Bruno, toda luta a ser feita será inútil. Só vamos nos magoar mais ainda, e principalmente você, tu serás o principal perdedor.
- O médico disse que com a quimioterapia é possível.
- A quimioterapia não garante nada, nem tanto a 8 meses atrás, imagina agora, acabou Bruno. Não adianta casarmos, e depois de uma semana te tornares viuvo, e nem sequer puder te conceder um filho, olhe para o meu estado,  eu não tenho nem um fio de cabelo, mal consigo respirar, o que poderei fazer por ti?nada! Vá o caminho é pra frente, luta pelos seus sonhos.
-Eu estou a lutar. Respondeu com lágrimas a escorrerem sobre o rosto.
Como assim?
-Tu és o meu sonho. O meu norte. - as lágrimas criaram leitos sobre o meu rosto, e me afoguei no abraço forte que ele me deu. -Vamos ultrapassar tudo isso juntos. Eu vou me casar contigo, na data que está marcada, nem que for aqui no hospital, e quanto a questão de eu me tornar viuvo, e de não puder ter um filho, não te preocupes, eu não vou me casar por um status e nem para ter filhos, mas sim porque eu te amo. 
  


Escrito por Duval Cabral